A INDIVIDUALIDADE NO TRÂNSITO COLETIVO E SUAS CONSEQUÊNCIAS
Publicado em: 03/02/2021

90% dos acidentes de trânsito em território brasileiro são causados por ação humana, o que ocasionam 40 mil mortes por ano 

 

Morar nos grandes centros urbanos é ter que conviver com o trânsito do dia a dia. Cada um em seu carro, moto ou caminhão, vivendo em sua bolha, com horários, pensamentos e compromissos. Porém, todos estão em uma única via, em uma única estrada.

 

 

A modalidade coletiva do trânsito cada vez mais está perdendo espaço para motoristas individualistas que, por razões de tempo ou quaisquer outras circunstâncias, colocam a própria vida, e a de outros, em risco com manobras perigosas.

 

 

Uma ultrapassada mais brusca entre carros, a curva fechada de um caminhão e os contornos das motocicletas deixaram de ser ações isoladas para se tornar algo normal.

 

 

Segundo dados levantados pela OMS (Organização Mundial da Saúde), 90% dos acidentes de trânsito são causados por ação humana no Brasil. Esses dados reforçam outra informação levantada pelo Órgão, cerca de 40 mil brasileiros morrem por conta desses acidentes no país.

 

 

“A velocidade excessiva é reconhecida, universalmente, como a principal causa de mortos, feridos e sequelados no trânsito, seguida de perto pela condução sob a influência de álcool e ultrapassagens perigosas, não necessariamente nessa ordem.” Afirma o Diretor Científico da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (ABRAMET), e Professor aposentado do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal de São Paulo, Flavio Dutra.

 

 

“Eu estava atrasada para um compromisso, e na pressa de querer sair logo do acostamento, entrei com o carro na via e não percebi que um caminhão já estava muito próximo a mim. Ele encostou na traseira do meu carro e me arrastou por alguns metros. O susto foi grande, mas graças a Deus o pior não aconteceu”, relata Danielle Romera, de 21 anos.

 

 

Justificativas como essa, envolvendo pressa ou distrações cotidianas são as principais causas dos acidentes segundo a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego. Esses fatores tiram a atenção do motorista da estrada e dos veículos ao redor, o que acaba ocasionando em acidentes de diferentes dimensões dependendo do caso.

 

 

”O fator humano importante que provoca acidentes é a “desatenção”, falhas de atenção que impedem que o motorista mantenha a concentração no ato de dirigir. Conversar no telefone celular reduz em até 80% a percepção da sinalização viária, condição que se agrava com a disseminação dos aplicativos de troca de mensagens”. Acrescenta Flavio Dutra, que complementa informando que “condições médicas, medicamentos, fadiga, sono e uso de substâncias psicoativas (drogas) são também importantes causas de acidentes de trânsito.”

 

 

Uma pesquisa feita pela Universidade de Utah, nos Estados Unidos, concluiu que o hábito de checar mensagens de texto amplia em 400% as chances de acidentes nas vias e quem digita mensagem de texto ao volante tem 23 vezes mais chances de sofrer um acidente.

 

 

Tecnologias automotivas atuais, como controle de cruzeiro adaptativo, assistente de partida em rampa, e diversas assistências ao motorista, são itens de segurança que cada vez mais se tornam tendência no mercado automotivo e a procura por esses recursos têm aumentado.

 

 

Porém, a presença deles não substitui a atenção do motorista. “Agir de forma preventiva e responsável, não assumindo atitudes arriscadas como as citadas, são decisivas para a redução de mortes e feridos no trânsito brasileiro.” Informa o especialista.

 

 

Ainda segundo o Diretor Científico Flavio Dutra, outro fator a ser levado em consideração são os traços de personalidade do motorista, pois esses apresentam relações com infrações de trânsito, violações e comportamentos de risco na direção. Como por exemplo, a extroversão, busca por emoção, agressividade, hostilidade, ausência de normas, impulsividade, raiva, estresse e tendência em assumir riscos.

 

 

Estudos demonstram que motoristas, envolvidos em acidentes, apresentam maiores escores em busca por sensação, neuroticismo, se sentem mais no controle de sua própria vida e com baixos escores de realização, socialização e especialmente em altruísmo.

 

 

O atual Código de Trânsito Brasileiro é considerado pelos especialistas como uma legislação eficiente e abrangente que, se cumprido à risca redundaria em um número bem reduzido de mortos e feridos no trânsito brasileiro.

 

 

Ou seja, para que o trânsito seja um lugar mais seguro de fato, é necessário praticar a empatia, como também ter em mente que a falta de atenção ao dirigir, mesmo que por pouco tempo, pode causar graves acidentes enquanto conduz o veículo.

 

 

“Temos que mudar radicalmente a postura hoje praticada, melhorar essas relações em um espaço democrático, fazer com que as pessoas possam desenvolver essa capacidade. No entanto, essa mudança do comportamento humano é lenta, gradual, até geracional. Muitos acidentes de trânsito ocorrem por falta de empatia, gentileza de condutores que não gostam de ceder passagem, e não estão preocupados com os problemas alheios.” Finaliza Flavio Dutra.

 

 

Por: Nicole Santana